segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A Casa do Sono, de Jonathan Coe


A Casa do Sono é um dos romances mais famosos escritos por Jonathan Coe e foi publicado originalmente em 1997. A obra só foi traduzida e publicada no Brasil em 2005. Não fez tanto sucesso por aqui, mas, sem sombra de dúvidas, é um livro emocionante e maravilhoso, abordando temas polêmicos e abrindo espaço para grandes discussões sobre amor, vida e, principalmente, escolhas.

O enredo segue de maneira não linear, alternando entre passado e presente, de maneira que somos atados a ele até o fim. Jonathan nos amarra a sua história de uma forma magnífica, a cada nova página e revelação, ficamos mais ansiosos por descobrir o que realmente ocorreu no período entre 1980 e 1994 no qual a história se passa. Eu mesmo me peguei diversas vezes refletindo sobre a história durante o dia, ansioso para voltar a ler. Seguindo com o enredo, somos apresentados ao grande elo entre as linhas de tempo. Ashdown é uma mansão que na década de 80 era uma república para universitários e dez anos depois foi transformada em uma clínica para tratamento de transtornos do sono, tais como insônia, narcolepsia e cataplexia. 


Nela conhecemos um grupo de estudantes que tem suas vidas ligadas de certa maneira, seja pela amizade, ou pelo amor. Sarah, quer ser professora mas tem narcolepsia, transtorno caracterizado pelo sono excessivo e incontrolável. Gregory é um rapaz que estuda medicina e namora Sarah, entretanto, seu comportamento violento e inescrupuloso, faz com que o relacionamento chegue ao fim. Robert é é o novo na república e num dos diversos momentos engraçados da história, acaba tornando-se bastante próximo à Sarah, chegando até mesmo a se apaixonar por ela. Por ultimo, temos Terry, amigo de Robert e estudante de cinema que deseja tornar-se um grande crítico e cineasta, um personagem forte e bastante carismático. 

Após transformar-se em clínica, Ashdown recebe novamente alguns de seus antigos moradores, agora como pacientes ou médicos. Além de conhecermos uma nova personagem, a misteriosa Dra. Madinson, vemos a situação atual dos jovens estudantes e percebemos o que mudou, a forma como cada um tomou sua vida, distanciando-se, ou simplesmente tentando esquecer o passado. De maneira geral, pode-se perceber que aquele período da universidade os moldou e contribuiu para compor grande parte do que eles se tornaram.


Utilizando os pontos de vistas dos próprios personagens, Jonathan escreve uma obra incrível. As descrições, as situações, os personagens, tudo é muito complexo, e bem criado, não vi nenhum tipo de furo, ou pergunta que não foi respondida. O enredo em geral é muito bem costurado, o que reafirma o poder da escrita de Coe, uma vez que é bem complicado trabalhar com duas linhas de tempo, sendo que o final de uma é o ponto de partida da outra. Segundo ele próprio, A Casa do Sono é uma ideia que surgiu a partir da união de duas outras. De um lado, uma história de um homem que se apaixona perdidamente por uma mulher gay, e de outro uma história sobre um grupo de pessoas que busca tratamento em uma clínica para distúrbios do sono. 

Unindo essas duas histórias de maneira sem igual, vemos nascer uma flor rara na literatura. A Casa do Sono, não é um livro do qual podemos ler uma resenha como esta e já tirarmos conclusões. É preciso vivenciar, experimentar a complexa trama da história, ver como ela se liga em suas mínimas partes, conhecer os personagens e suas intenções, saber o que cada um deles fez para tomarem tais rumos na vida. Um grande exemplo disso é Robert e Sarah, que, na minha opinião tornam a trama uma das mais complexas e instigantes que eu já vi na vida. Desde a leitura, ainda não consegui arranjar palavras que descrevessem exatamente tudo, as reviravoltas e as revelações dos capítulos finais desse livro

Uma obra magnifica e sem igual, que deve ser lida com atenção e a mente aberta para entender os motivos e as ações dos personagens, sem julgá-las por ideias preconcebidas. Um livro um tanto polêmico, mas de uma realidade incrível em diversos pontos, que me fez pensar, me ensinou e me mostrou o quão forte pode ser um amor, atravessando qualquer tipo de barreira. Não há como descrevê-lo diretamente, o conselho é procurar por um exemplar e preparar-se para uma leitura repleta de momentos engraçados, bastante reflexiva e com um enredo espetacular.

 

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