terça-feira, 1 de setembro de 2015

Coraline, de Neil Gaiman


Se você, ainda hoje, pensa que Coraline é uma história infantil, sinto muito, mas enganou-se feio. Nesse livro incrível, Neil Gaiman nos conta uma história macabra e encantadora sob o ponto de vista de uma garotinha que beira a adolescência e tem que mudar-se com a família para um conjunto de apartamentos, onde os vizinhos são idosos e não há nenhuma criança. Realmente, pode-se pensar que seja algo bastante infantil, contudo o desenrolar do enredo se dá de forma tão surreal e estranha que Coraline transforma-se num terror bastante adulto e doentio.

A vida na nova residência é bastante entediante e Coraline, como exímia exploradora, passa seu tempo vasculhando, descobrindo coisas. Os pais, obcecados com o trabalho, não dão a atenção que a garota quer, o que a deixa muito frustrada. Os vizinhos, agindo com simpatia, sempre erram seu nome e falam coisas malucas para a garota, sendo peças-chave para a estranheza da história. Numa de suas explorações, Coraline descobre a porta. A "porta grande e de madeira esculpida no canto mais afastado da sala de visitas". Aparentemente, não dá a lugar nenhum, há apenas um muro de tijolos que separa os apartamentos. À noite, porém, barulhos e visões estranhas a levam a descobrir que nada é exatamente como ela acredita e, na verdade, há um mundo inteiro por trás da velha porta.
Então, pôs a mão na maçaneta, girou-a e finalmente abriu a porta. Ela dava para um corredor escuro. Os tijolos haviam desaparecido como se nunca tivessem estado lá.[...] Coraline atravessou a porta. [...] O tapete sob seus pés era o mesmo tapete que tinham em seu apartamento. O papel de parede era o mesmo. O quadro pendurado no corredor era o mesmo que havia pendurado no corredor em sua casa. Sabia onde estava: estava em casa. Não tinha saído de lá.
Com descrições bastante simples e diretas, Neil Gaiman nos convida a entrar no seu mundo e nos tranca lá até que consigamos descobrir o destino que aguarda a jovem Coraline, o que não é nada ruim, uma vez que esse outro mundo, exatamente igual ao mundo real, é repleto de tudo o que mais queremos, repleto de tudo o que Coraline mais quer: a atenção dos pais, comidas deliciosas, diversão e nenhuma cobrança. Resumidamente, o mundo perfeito para a garota. A única aparente diferença são os botões negros, que todos usam no lugar dos olhos. Para permanecer no Outro Mundo, Coraline deve deixar que sua Outra Mãe, que governa o lugar, costure botões em seus olhos; proposta que a deixa bastante temerosa.

Percebendo o mal eminente, a menina decide voltar para casa e percebe que seus pais verdadeiros desapareceram, sem nenhuma explicação plausível além de uma aparição no espelho e um pedido de socorro. A partir daí, inicia-se a busca de Coraline pela salvação de seus pais e das almas de três crianças que tiveram suas almas retiradas e aprisionadas pela Outra Mãe. Passando por situações macabras e doentias, a garota mostra uma coragem excepcional para salvar sua família.
Eu não quero tudo o que eu quiser. Ninguém quer. Não realmente. Que graça teria ter tudo o que se deseja? Em um piscar de olhos e sem o menor sentido. [...]
Na minha opinião, Coraline é uma obra incrível e, como o próprio Neil Gaiman diz, a coisa mais estranha que ele já escreveu. Considero uma obra mais adulta, mas claro, qualquer criança que desejar se aventurar pelo universo do livro terá uma grande história, com uma ótima mensagem de coragem e superação, além de uns bons sustos. 

Personagens de Coraline na animação de dirigida por Henry Selick
Ao meu ver, não sei se foi uma intenção de Gaiman, Coraline assemelha-se muito com Alice no País das Maravilhas. Claro, de uma forma totalmente distorcida e macabra, mas diversos elementos da narativa me fizeram lembrar das aventuras de Alice. A presença de um gato que guia Coraline e a ajuda na sua missão. A própria Outra Mãe, pareceu-me muito a Rainha de Copas. Mas, esquecendo meus devaneios, li Coraline para o clube do qual faço parte e uma observação que me deixou bastante interessado é que a obra é um Conto de Fadas sim, porém, a figura que representa a Fada, a Outra Mãe, é a grande vilã. Ao contrario da grande maioria do gênero. Há, inclusive relatos de fadas que poderiam roubar almas, criar ilusões e outras maldades, o que pode dar uma noção do realmente acontece em Coraline e do porque isso acontece.


As ilustrações do livro ficaram a cargo de David McKein, que também ilustra outra obra bastante conhecida de Gaiman, Sandman. Como podemos ver, essas ilustrações são parte fundamental da atmosfera do livro e como tal, representam bem o ideal do terror que pretende-se passar. São ilustrações muito boas e aterrorizantes, principalmente a da Outra Mãe batendo com a unha no seu olho de botão.


Por fim, recomendo muito a leitura de Coraline. É um livro relativamente curto e direto, o que o torna bem fácil de ler, além do mais, é uma leitura prazerosa e curiosa. É praticamente impossível largá-lo antes do fim. Quem ainda não pode ler, por favor, procure Coraline e se perca nessa aventura surreal de um dos maiores autores da atualidade.
Porque quando você tem medo e faz mesmo assim, isso é coragem.

Um comentário:

  1. Oi, tudo bem?
    Eu li Coraline para o vórtice, mas acabei nem indo ao encontro.
    Eu gostei da leitura, mas para mim não foi nada de mais. O livro é bem simples e não consegui ver o terror nele, esperava também um pouco mais da obra.

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