quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Frankenstein, de Mary Shelley #MêsdoHorror


Ao contrário do que muitos pensam, Frankenstein não trata somente de um cientista maluco e sua criatura aterrorizante, criada a partir de restos mortais e reanimada por choques elétricos. Para começo de conversa, a autora não mencionou o uso de raios em nenhuma página do livro. Mas enfim, o livro de Mary Shelley é uma obra excepcional que merece o grande mérito que conquistou ao longo das décadas.

A criação da história se deu num encontro de Mary com outros três autores: Lord Byron, Percy Shelley, futuro marido da escritora, e John Polidori. Nesse dia, uma tempestade caia e eles estavam confinados numa casa de veraneio. Byron propôs que cada um criasse uma história de terror para apresentar aos demais. Nesse intuito, Polidori acabou escrevendo o conto "O Vampiro", que anos mais tarde, inspirou Bram Stoker na escrita de Drácula. Já Mary, demorou dias, até que surgiu com sua ideia e apresentou Frankenstein, ainda um conto. A jovem escritora tinha 19 anos e só 10 anos mais tarde é que veio a edição definitiva a partir do conto criado naquela noite.

O livro, em si, é narrado em primeira pessoa, e acompanhamos Robert Walton, um jovem que navega rumo ao pólo norte, em sua sede pelo conhecimento e descoberta de novas terras. Durante sua viagem, ele comunica-se com sua irmã por meio de cartas e essas correspondências é que são apresentadas durante o livro como forma de narração. Depois de um bom tempo, nosso jovem descobridor alcança os grandes mares congelados e vê ao longe uma figura grande e monstruosa comandando um trenó, uma visão que assusta os tripulantes. Poucos dias depois, Robert avista um homem à deriva e decide resgatá-lo. Mal sabendo da figura que acabara de abrigar em seu navio, Robert trata dele e de seus delírios, como a um ente querido.

Quando o homem alcança uma melhor saúde ele chama Robert e decide contá-lo sua própria história, a história de sua desgraça e destruição, numa forma de alertá-lo contra sua tentação pela descoberta e pelo conhecimento. Iniciamos assim a narração da história de Victor Frankenstein, desde sua infância até seu estado atual. Conhecemos a família Frankenstein e a jovem Elizabeth, adotada pelos pais de Victor e sua primeira e única paixão. Àquela época, o garoto desenvolve uma grande fascinação pelas ciências naturais, pelo mistério da vida, e ao atingir a idade adulta, o promissor cientista ingressa na Universidade de Ingolstadt na Alemanha. Lá, ele começa a conhecer toda uma nova realidade no que diz respeito às ciências, desmistificando muito do que o fascinara nos primeiros anos.

A partir desses estudos, Víctor acredita ter descoberto uma forma de gerar a vida, animar corpos mortos. (Nada que envolva raios, a princípio) E com esse pensamento, ele imagina dar vida a uma criatura. Montando todo um laboratório e juntando restos de corpos do necrotério onde trabalhava, Victor passa meses isolado, dando forma a sua criação. Contudo, ao ver que a criatura realmente está viva e desperta, o horror toma conta de seu corpo. O que ele acabara de fazer?! Fugindo do monstro e de sua própria loucura, ele abandona seu "filho" à própria sorte. Decidindo então voltar para casa e esquecer tudo, ele mal sabe que o monstro irá em busca de seu criador. O mais profundo desejo que move o monstro, um único pedido da criatura, poderá de vez destruir Victor e tudo o que há de mais precioso em sua vida.


Desde que li as primeiras páginas, já fui completamente cativado por tudo em Frankenstein, a forma como Mary Shelley decidiu contar sua história, as boas dosagens de drama e loucura, as descrições de personagens, lugares e ações. Tudo foi criado de forma magnífica. Como uma máquina bem programada, a história avança num ritmo que prende o leitor. Eu mesmo sempre estava querendo saber o que viria a diante, o que mais Victor teria que suportar como castigo por sua prepotência. Toda a construção do enredo e das cenas é um dos grandes detalhes que torna Frankenstein uma obra prima.

Outra coisa que cabe destacar bastante são os diversos temas e críticas abordados por Mary na narrativa. Há críticas à sociedade da época e seus padrões, críticas à natureza humana, e um dos temas mais interessantes, que acaba ficando escondido, é a fragilidade da vida e como isso pode afetar as pessoas. Quando a criatura de Frankenstein mata um de seus entes queridos é fácil e bem lógico perceber como aquilo afeta todo a família. O próprio Victor, ao narrar seu sofrimento, exprime essa ideia com bastante clareza. O nosso apego à família pode ser a chave para nos quebrar, para nos dilacerar. O monstro sabe disso e o usa como sua arma de vingança.

De todos os momentos que eu já apontei, acho que a mais interessante é a jornada do monstro, desde sua fuga do laboratório, até a busca por seu criador. Cada momento vivido por ele, as experiências negativas, o sofrimento, a curiosidade. A autora praticamente nos faz conviver com a criatura e sentir como um ser puro, sem nenhuma mácula, tornou-se um monstro real, capaz de matar por vingança. Vendo essa transformação eu mesmo me perguntei, quantas vezes as pessoas tornam-se ruins, amarguradas devido a experiências horríveis pelas quais passaram. A criatura de Frankenstein é um belo retrato disso.


Por fim, só posso dizer que esse foi um dos livros mais belos, loucos e incríveis que eu já li. Nunca imaginei que me apaixonaria tanto pela história. Uma obra que atravessou décadas, até mesmo séculos e ainda aborda temas tão atuais. Além de tudo, levantou as bases de outro gênero incrível que e a ficção científica. Só espero que Frankenstein permaneça ainda por muito tempo instigando e fascinando leitores, pois uma obra desse porte e profundidade não deve se perder jamais.


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