Perdão, Leonard Peacock (Forgive me, Leonard Peacock) é um impressionante romance de Matthew Quick, também autor de O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook) e pode-se dizer que ele entra naquela categoria de livros que você leva pra sempre na memória, tendo uma capacidade gigantesca de te prender, te ensinar e te surpreender.
Narrado em primeira pessoa, sob a perspectiva do próprio Leonard, o romance nos leva ao dia do aniversário de 18 anos do garoto. Dia em que ele planeja matar seu “ex-melhor amigo” e depois cometer suicídio com a P-38, pistola nazista de seu avô. Entretanto, antes do grande espetáculo, ele precisa encontrar quatro pessoas que ele considera as mais importantes em sua vida e entregar-lhes presentes presentes de despedida. Walt, um velho que mora na vizinhança, obcecado por filmes de Humphrey Bogart; Baback, um colega de escola que toca violino; Lauren, uma garota cristã por quem Leo se apaixona, e Herr Silverman, seu misterioso professor de história do Holocausto. Uma das citações de Herr é de autoria de James Baldwin, escritor reconhecido durante a luta pelos direitos civis da população negra nos Estados Unidos, na década de 60.
“As pessoas pagam pelo que fazem, e pagam ainda mais pelo que se permitiram se tornar. E pagam de forma muito simples; pela vida que levam.”
Com o desenvolvimento da narrativa todo o mistério que é bastante explorado por Matthew vai sendo revelado. Leonard, ao encontrar os destinatários dos presentes, conta-nos da importância delas em sua vida, da maneira como se conheceram, do tipo de relação que tinham, tudo com incríveis comentários recheados de sarcasmo e ironia nos rodapés das páginas, o que torna o livro um tanto mais envolvente, uma vez que há uma espécie de “diálogo” com Leo.
A cada presente entregue e despedida feita, a história e os motivos de Leonard vão ficando tão claros que sentir pena do garoto é quase inevitável. Em pontos cruciais do enredo, como o momento em que Leo chega à casa de Asher (a vítima) o leitor já torna-se tão envolvido com protagonista que nutre os mesmo sentimentos de ódio que ele.
A narração de Quick é feita com maestria e não deixa a desejar em nenhum ponto. A linguagem pode ser considerar um pouco pesada, principalmente pelos constantes palavrões, mas essa é a realidade de Leonard, que, como personagem, também tem sua forma de ver o mundo, seja de uma forma mais bela ou da forma negativa e pessimista que ele demonstra. É um livro que se deve ler com a mente aberta, pois há momentos em que pode parecer-se um tanto rude, grosseiro, ou fora do que muitos chamam de “normal”, principalmente pelas razões que Leonard nos mostra.
“Perdão, Leonard Peacock” leva o leitor a uma grande reflexão sobre quão boa a sua vida pode ser se comparada com a do cara que senta ao seu lado no ônibus, ou daquela mulher que lhe serve um café. Com Leo, aprende-se um pouco a não julgar a vida ou atitudes dos outros até saber os reais motivos que levaram a qualquer ato.Em especial, aprendi que por pior que eu julgue minha vida, por mais chata que ela possa ser, deve existe uma, milhares, ou mesmo milhões de pessoas em situação pior.
Acima de qualquer coisa, esse livro trata do quanto as pessoas podem ser importantes nas nossas vidas e do quanto devemos valorizá-las, mostrar-lhes o quão importantes são. Leo faz isso, dando presentes incríveis e fazendo coisas que ninguém imaginaria, somente para agradecer pelo fato de determinadas pessoas terem passado e deixado suas marcas na vida dele. Talvez essas pessoas possam ser aqueles que o irão salvar no momento em que ele mais precisa. Talvez eles o impeçam de fazer qualquer besteira. Da mesma forma, no nosso pequeno mundo, temos amigos com os quais nos importamos, e que certamente se importam conosco.
Devemos abandonar a ideia de que podemos viver sozinhos e não precisamos de ninguém, nem de ajuda para resolver nossos problemas. Abandonar o egoísmo e reconhecer que vivemos, e por viver, estamos ligados à pessoas, que estão ali para nos ajudar, para nos dar a mão, por mais idiotas que possamos ser. Como o próprio Leonard diz:
“Quero dar para cada um algo que os faça se lembrar de mim, para que saibam que eu realmente me preocupo com eles e que lamento não ter sido mais do que fui”
Perdão, Leonard Peacock é, até hoje, o meu livro favorito justamente por essa mensagem que Matthew quis passar. É um livro absolutamente incrível e real. Infelizmente não é tão conhecido quanto gostaria, mas espero que mais pessoas possam ver o que passei a ver com essa história tão louca e surpreendente.
“Hoje é o aniversário de Leonard Peacock. Também é o dia em que ele saiu de casa com uma arma na mochila. Porque é hoje que ele vai matar o ex-melhor amigo e depois se suicidar com a P-38 que foi do avô, a pistola do Reich. Mas antes ele quer encontrar e se despedir das quatro pessoas mais importantes de sua vida: Walt, o vizinho obcecado por filmes de Humphrey Bogart; Baback, que estuda na mesma escola que ele e é um virtuose do violino; Lauren, a garota cristã de quem ele gosta, e Herr Silverman, o professor que está agora ensinando à turma sobre o Holocausto. Encontro após encontro, conversando com cada uma dessas pessoas, o jovem ao poucos revela seus segredos, mas o relógio não para: até o fim do dia Leonard estará morto.”
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